Pobe Jari foi nossa primeira caverna, o nome indígena significa
“caverna das duas bocas”. Pedro, nosso guia nos explica que ela tem um formato
de Y invertido e entramos por uma das alças. É muito emocionante entrar dentro
desse espaço único e especial. Pelo chão corre água, acendemos as luzes de
nossos celulares para saber por onde andamos. A parede da caverna parece ser meio
rosa. O salão de entrada possui uns 3 metros de altura. Beleza de um palácio feito
pela natureza. Volto meu olhar para a imensa boca de entrada e vejo o belo
quadro da natureza exuberante de diferentes verdes se contrapondo ao escuro da
caverna. Quando ilumino a parede vejo um inseto caminhar e lembro de minha
prima Flávia Pellegatti Franco que trabalha estudando bichinhos de cavernas. Penso
que seria bom estar com ela naquele lugar, assim ela iria me ajudar o olhar
aquela beleza que entra dentro da mim. Mais para o interior da caverna o teto
parece brilhar quando focamos as luzes, é o ouro
do tolo ou pirita.
Pedro propõe que desliguemos as luzes e por alguns instantes
ficamos em total silêncio no escuro compacto. Foi dessa maneira que fomos
contaminados pelo centro geodésico, no ponto equidistante entre o Atlântico e o
Pacífico, no coração da América do Sul, no interior mais profundo da caverna
Pobe Jari. Nos surpreendemos, não por ser
exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o
óbvio (Um índio – Caetano Veloso)
Dia 10 de fevereiro foi dia de aventura. Dia de visitar o circuito das cavernas.
Minha irmã e Sonia não irão, já fizeram esse passeio. Vou me
encontrar com o guia na frente da igreja de Santana de 1779, uma preciosidade,
construída de taipa de pilão e telhado em telha de barro canal. Essa igreja
está no centro da praça é rebocada e caiada, suas janelas e portas são azuis.
Na porta principal passamos por um lindo portal de madeira entalhada à mão.
Dentro, a capela mor é revestida de azulejos do chão até altura de 80 cm. Esses
azulejos são do período pombalino, pintados à mão e foram fabricados em Lisboa
no século XVIII.
São 9:00 horas da manhã. O dia está nublado, o que
facilitará nossa caminhada pelo cerrado. Aguardo a chegada do guia Pedro
Ortega. Moço bonito, formado em sociologia, terminando o curso de psicologia e
técnico em turismo. Seu sonho é juntar essas três ciências e fazer com que o
turista que venha visitar a Chapada tenha uma experiência além do simples visitar
o local. Ele quer que a pessoa se reconecte à sua essência e saia desta
experiência um ser melhor. Juntam-se a nós duas paulistas Cris e Ruth e depois
o jovem casal Gabriel e Larissa, ambos do interior do Estado de São Paulo.
Gabriel de Caçapava e Larissa de Jundiaí.
Todos reunidos iniciamos nossa aventura. Pego carona no
carro de Ruth e Cris, Pedro vai no carro de Gabriel e Larissa. Do centro até as
cavernas devemos percorrer uns 30 km em direção a Campo Verde até a Fazenda
Água Fria onde ficam as cavernas. Um bom trajeto é de estrada de asfalto,
depois pegamos uma estrada de terra que está bem conservada, embora tenha
alguns pontos com areião. Em parte do caminho, em ambos os lados o cerrado foi
substituído por uma enorme plantação de soja. Chegamos na fazenda 10:00 horas
da manhã. Para fazer esse passeio, é possível escolher se quer chegar até as
cavernas de trator, ida e volta, ou só ida com volta a pé percorrendo a trilha
dentro do cerrado, ou ida e volta à pé. Nosso grupo optou por fazer ida de
trator e volta à pé. O trator puxa uma carroceria onde foram colocados bancos
como um ônibus, é todo aberto.
Assim que chegamos na fazenda, recebemos caneleiras para nos
proteger de picadas de cobra. Passamos pelo restaurante para confirmar que na
volta iríamos almoçar e corremos para nosso transporte. No meio do caminho o
trator pára em um lugar onde é possível avistar todo o vale até a cidade de
Cuiabá. Fotos, fotos e mais fotos. Voltamos para o trator logo ele nos deixa na
trilha para encontrar a nossa primeira caverna, Pobe Jari.
No caminho para a caverna Pedro vai nos contando das
riquezas cerrado. É no cerrado que encontramos as nascentes de 8 das 12 regiões hidrográficas e responde
por um terço da biodiversidade do Brasil. O clima é quente e há períodos
de chuva e de seca, com incêndios espontâneos esporádicos. As árvores têm caules retorcidos e
raízes longas, que permitem a absorção da água. Algumas árvores do
cerrado possuem o caule em volto de cascas grossa que parece uma cortiça. No caminho
para as cavernas pode acontecer de um mosquitinho entrar dentro dos olhos, ele
adora fazer isso e é bem desagradável. O mosquitinho é conhecido como “lambezóio”. Para evitar que isso ocorra,
Pedro nos deu a dica de pegar uma folha de Negramina e deixar perto dos olhos,
ela funciona como um repelente do lambezóio.
Como eu estava de chapéu coloquei em cada lado das minhas têmporas e deu
certo.
Vamos aos valores por pessoa para esse passeio: o
guia cada um paga R$ 50,00. Entrada na Fazenda R$ 65,00. Trator só ida R$
20,00. Almoço, R$30,00
Não existe a possibilidade de fazer o circuito das cavernas sem um guia. Nosso guia foi muito bacana e o grupo todo interagiu harmoniosamente.
Dia 9 de fevereiro fomos visitar a cachoeira do Véu da Noiva que fica dentro do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. O acesso é muito bom e bem sinalizado. A entrada é gratuita e não precisa contratar um guia. Para se chegar até o mirante é possível deixar o carro no estacionamento e fazer uma caminhada em uma trilha de 550 metros. Pessoas idosas ou com algum tipo de dificuldade podem descer de carro até o pátio do restaurante. O mirante fica bem perto do restaurante.
A cachoeira é formada pelo rio Coxipó e tem 86 metros de queda livre. Essas as águas irão desembocar no rio Cuiabá que irá alimentar o Pantanal.
A exuberância do local é de tirar o folego, além da cachoeira somos brindados com a visão fantástica das escarpas dos morros formados de arenitos onde podemos perceber a diferentes camadas de vermelhos, amarelos, laranjas, ocres e marrons. O vale que se abre possui uma vegetação rica do que parece ser uma transição da mata atlântica com a floresta amazônica, e seu verde escuro contrasta com as cores do cerrado do platô.
Chegamos ao mirante perto do horário do almoço, o dia estava nublado, portanto, o clima estava ameno. Ao se observar o lugar tem-se a sensação de estar em um ambiente pré-histórico, a qualquer momento pode aparecer um pterodátilo dando uma rasante no vale. No seu lugar, hoje voam araras, maritacas e andorinhões, principalmente no amanhecer e final do dia.
Depois de nos deliciarmos com a beleza local fomos almoçar no restaurante. Minha irmã, Carolina, teve a excelente ideia de levar um vinho rose português para tomarmos durante o almoço. Pediu permissão ao garçom que, com um grande sorriso, disse que era permitido, mas que infelizmente não tinha taças para o vinho. Comemos um excelente peixe na telha, apreciando a paisagem à nossa volta e brindamos à boa comida, bom vinho, bela paisagem e ótimas companhias.
No dia 7 de fevereiro, saí de São Paulo sem saber o que
havia acontecido com o verão e cheguei em Cuiabá abafada, quente, céu carregado
de nuvens.
Entramos pela cidade por Várzea Grande, onde fica o
aeroporto e percorremos uma grande avenida em direção à Cuiabá onde podemos
observar ao longo dela o que um dia poderia ter sido um metrô de superfície. Obra
prevista para acabar para a Copa de 2014, é agora apenas a lembrança triste de
nossa incompetência e descaso com o bem comum.
Desde dezembro de 2014 minha irmã, Carolina, resolveu dar
uma virada em sua vida. Deixou a cidade de São Paulo com suas atrações e
terrores para trás e mudou-se com Sonia para a Chapada dos Guimarães.
E essa é a primeira vez que venho visitar a nova morada das
duas.
Chapada dos Guimarães fica à 64 km. Na estrada a Chapada vai
crescendo aos meus olhos até o momento que não aguento mais e, saí sem que eu
perceba um grande, UAU!
As duas moram em um bairro que fica à 3 km antes de chegar ao
centro da cidade. Terra vermelha no lugar do asfalto, verde por todo lado. Um grande jardim na frente e no portal duas araras de
madeira. A casa é pequena e verde. Flora e Gil, dois Dash Hound, nos aguardam no corredor
lateral, abrindo a cortina com o focinho. Eles não podem ficar soltos no
jardim, porque são tão maravilhosos
que alguém pode roubar. Assim que são soltos eles vêm me dar boas-vindas.
Dentro da casa aconchego. No meu quarto, toalhas dobradas em
cima da cama, uma barra de chocolate e sais para escalda pés do Atelier Casa 70,
que pertence à Carolina e Sonia.