segunda-feira, 30 de maio de 2016

87 dias de viagem. 60º dia. Red Butte Garden


30 de maio de 2016
Dois meses vivendo aqui em Salt Lake City. Meu inglês melhorou muito, mas está longe de estar bom. Já entendo bem mais e melhorei um pouco para falar. Continuo achando tudo lindo por aqui. Cada caminhada é uma nova descoberta. Agora que não tenho ido mais na escola, saio pela manhã para dar uma volta com Charlie, o cão, nas ruas próximas à casa da Silvye. As flores estão explodindo e a cada dia aparece uma nova. No início do mês foram as tulipas, depois as írises, as papoulas, e agora, são as rosas.
As árvores estão verdes, e algumas têm folhas vermelhas. As árvores cotton woods estão explodindo e o ar está carregado de flocos de algodão dançando pelas ruas.
Aqui, a natureza tem pressa, elas têm apenas a primavera para mostrar suas cores, flores e folhas. Do dia 20 de março até o dia 21 de junho ela precisa se mostrar, depois vai ficar muito quente e a natureza vai ter que se preparar para o colorido do outono e depois dormir embaixo do branco do inverno. Ontem no Red Butter Garden pudemos sentir a força e a beleza da natureza. Para nós, que vivemos no Brasil, e temos flores e verde o ano inteiro, estações tão definidas como aqui são surpreendentes.
Para mim mostra como a vida passa rápido, tudo é muito efêmero.

A vida é tão rara.

domingo, 22 de maio de 2016

87 dia de viagem. 54º dia. Water Polo


22 de maio de 2016
A cidade de Salt Lake City é dividida por diferentes bairros que eles chamam de city. Cada city tem um “prefeito” que é escolhido por meio de voto das pessoas que moram no local. Além de escolas a city possui um clube com toda infraestrutura. As escolas dos bairros oferecem diferentes esportes e Daniel, filho da Silvye faz parte da equipe de polo aquático. Ontem fui assistir ao final de campeonato de polo aquático das escolas estaduais Utah High School Water Polo. Bengals X Vikings. Bengals são da Brigthon High School e estão ligados ao Cottonwood Heights Recreational Center, que é o clube do bairro. Os Vikings são da escola estadual Viewmont High School fica em Bountiful onde também tem o clube para seus treinamentos.
O final do campeonato aconteceu no Murray City Parks and Recreation. Eles possuem e piscina, uma para competições, outra de lazer cheia de brinquedos, ambas internas e uma externa que só é aberta no verão. Tudo isso fica no meio de um belo parque, com local para encontros, caminhadas.
A competição aconteceu à tarde e estava com a arquibancada lotada. Silvye insistiu para que eu levasse a máquina para tirar fotos da competição e levei. Não sei fotografar esporte, minha máquina não tem uma lente muito potente e não conseguia aproximar o quanto queria. Fiquei em baixo perto da piscina sentada em um banco da lateral. A arquibancada fica acima de onde eu estava. Logo as meninas do polo aquático sentaram ali para torcer pelos meninos. Elas já haviam jogado e ganharam o campeonato.
E lá fiquei eu, sentada no meio das atletas, todas loiras, altas e magras.
Pena que eu não tenha uma foto para mostrar.
Foi bom ver a alegria daqueles meninos quando o jogo acabou.
Exaustos, mas muito felizes.
Para alguns deles, esse foi o último jogo para o time, eles estão indo para a universidade. Daniel ainda tem mais um ou dois anos pele frente.
Foi bom ver o seu sorriso de satisfação e de conquista e o olhar dos seus pais de orgulho pelo filho.
É bom sentir esses momentos em que tudo está em suspensão e o que interessa é o estar e viver e fazer o seu melhor.
Momentos de fluir.

terça-feira, 17 de maio de 2016

87 dias de viagem. 49º dia. Green River


17 de maio de 2016
A construção da represa de Flaming Gorge teve início em 1958 e terminou em 1964. Foi construída uma pequena cidade para os seus trabalhadores. Posteriormente essas casas foram vendidas e Steve, amigo de David comprou uma delas. É uma ótima casa, com jardim na frente e no quintal. Tem uma grande sala de visitas, uma sala de sol (toda envidraçada) que dá para o quintal. Cozinha, despensa, três quartos e um banheiro completo e um lavabo. Ao lado da casa tem uma garagem onde Steve guarda seu barco e tem uma pequena oficina.
O Green River alimenta a represa de Flaming Gorge com sua água gelada o ano inteiro. Essa temperatura da água é ideal para o criadouro de peixes como a truta. Todo o entorno encontramos a montanhas rochosas com seu colorido vermelho, ocre e verde e vegetação de arbustos, cactos e pinheiros. Em 2015 ocorreu um incêndio de grandes proporções que queimou mais de setenta e cinco acres da reserva de Flaming Gorge. Ainda hoje podemos ver e sentir o resultado da queima de tantas árvores. Parece que passou um enorme cortador pelas montanhas deixando uma parte dela com uma mata rasteira.
David, no sábado, saiu logo cedo para ir pescar, e nos deixou dormindo em casa. Voltou por volta das 9 horas da manhã todo feliz com os peixes que pescou e nos apressou para iniciarmos nossa descoberta pelo Green River.
O rio é lindo, é muito bom escutar o som das águas passando pelas pedras. Deixei para trás Patrícia e Silvye, na disputa de quem fala mais e fui caminhando pela beira do rio capturando pequenos momentos para compartilhar.
Mais tarde fomos para o lago, e demos uma parada na montanha para nosso treinamento de vida no Oeste. Aqui, segundo David, todos tem uma arma e sabem atirar, por isso não tem violência. Patrícia e eu iniciamos nosso treinamento obedecendo todas as ordens e alertas de Sgt Harrison.
Depois do treinamento fomos para o lago. O dia estava bem quente, Patrícia colocou o pé na água e agradeceu por ter se contido e não ter se jogado na água.
O pé quase congelou...segundo ela.
Para completar, lanche em volta da fogueira.

E toda beleza ao nosso redor.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

87 dias de viagem. 48º dia. Caminho para Flaming Gorge




16 de maio de 2016
Sexta-feira, dia 13 de maio, Patrícia chegou aqui em Salt Lake City. Eu a conheci em meu ateliê, onde foi pesquisar um pouco sobre a área de artes e saber sobre a pintura encáustica. Ela trabalha na bolsa de valores de São Paulo na área de TI e procura abrir outros caminhos por meio da arte para ampliar seu horizonte. Me contou que sempre procura, em seu horário de almoço, alguma alternativa cultural para atenuar o desgaste da rotina diária do trabalho. Desde o começo a achei uma pessoa muito interessante e muito aberta para conhecer e saber mais.
Quando eu já estava por aqui Patrícia me escreveu contando que estava partindo de férias para os Estados Unidos em uma espécie de “mochilão”: Boston, New York, Filadélfia, Washington DC, e depois iria para São Francisco e Los Angeles. Lá ficaria duas semanas para fazer um curso de inglês e voltaria para São Paulo.
Contei a aventura para Silvye e ela logo abriu seus braços e coração para recebe-la em sua casa aqui em Salt Lake City. Planejamos então, um passeio para mostrar um pouco da natureza exuberante do estado de Utah.
Silvye e eu fomos pegar Patrícia no aeroporto às 15 horas, enquanto David organizava as coisas para sairmos de viagem. Iríamos no carro de Silvye, mas no final, era tanta mala, geladeira, comida, tranqueira para a pesca e Charlie...foi impossível, mudamos tudo para a van de David. A van é enorme, parece carro que se usa para sequestro em filmes.
Um amigo de David é pescador, ele pratica o Fly Fishing. Quem não conhece pode ver o filme dirigido por Robert Redford “ Nada é para sempre” (A River Runs Through It, 1992), é uma modalidade de pesca que é uma arte e é muito praticada no Green River em Flaming Gorge. Steve tem uma casa em Flaming Gorge e emprestou para passarmos o final de semana. A viagem até lá dura umas três horas. Para chegarmos lá temos que passar pelo estado do Wyoming e voltar de novo para o Estado de Utah. Assim como a viagem para Califórnia, a paisagem é maravilhosa, mas as montanhas possuem outras colorações, além do ocre e do vermelho. Ali elas adquirem tons esverdeados, dourados, parece que alguém passou um pincel horizontalmente pelas montanhas. É lindo.
Tínhamos pressa de sair para não pegar a estrada no escuro perto de Flaming Gorge, pois nesse horários os veados, alces, e outros animais estão em deslocamento e atravessam a estrada na frente dos carros, o que pode causar um acidente bem grave.
Conseguimos sair de casa por volta das 16:30, os dias estão bem compridos por aqui, por volta das 21 horas o sol está se pondo. O caminho é lindo
Só a viagem já é uma viagem.
Green River?
É lindo, conto em outra postagem.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

87 dias de Viagem. 44º dia. English Language Learner

Escola Horizonte

Estou na metade de minha jornada pelos Estados Unidos.
Todos os dias vou para escola estudar inglês. Lá, em minha classe encontro pessoas de vários lugares do mundo. Existe um grupo de monges do Camboja. Sempre me sento perto de um deles, não consigo guardar o seu nome, mas ele sabe que me chamo Ana assim como outras duas Colombianas, Ana Cristina e Ana Celena. Tenho uma amiga que veio da Venezuela, outros muitos do México, três vieram da China, uma da Coréia e outra de Myanmar. Outros vieram do continente Africano. Justim veio do Congo, ele é refugiado, em um dos nossos exercícios de talking em que tínhamos de falar sobre nossas lembranças da infância, Justin nos contou que só se recorda de ter de correr muito e de estar sempre com muito medo. Fiquei muito impressionada com sua história. Descobri nele um belo rosto para ser desenhado. Não tive coragem de pedir isso, mas fiz um pequeno esboço no caderno durante uma aula. Nairobi veio da República da África Central, nos contou que onde morava não tinha computador, internet e celular que só veio ter contato com essas tecnologias aqui nos Estados Unidos. Bo, veio da China, está aqui com sua filha que estuda para entrar na universidade. Seu marido continua na China. Seu nome significa onda. Maria Inês é brasileira, está aqui há quase seis meses. Veio com o neto para aprender inglês e disse que nunca foi tão feliz em um lugar. Lao é outra chinesa super esforçada e muito simpática com todos, cada vez que Tatiana a corrige ela agradece. Tatiana, nossa professora, disse que em todos os anos que é professora essa é a primeira vez que uma aluna a agradece ao ser corrigida. Ela veio da Rússia, é enérgica, ninguém pode conversar. Don’t talk! Don’t talk! Don’t use cell phone, no cell phone. De tanto falar, à noite sonha com isso. Apesar de tudo isso ela consegue fazer com que essa torre de Babel consiga se entender. Tatiana possui um humor bastante particular. Irina, também veio da Rússia e ama o que faz e o país por todas as oportunidades que ele oferece. Procura de todas as maneiras, fazer com que os alunos compreendam o funcionamento da estrutura da escola, quais as possibilidades de continuar os estudos, como se habilitar para um emprego. Para ela, é preciso ter muito claro quais são as suas metas e quais os caminhos para conseguir atingir seu objetivo. Também é rígida e difícil de sair um sorriso, mas merece o título de professora
Hoje ao chegar na escola Tatiana me levou para sala de teste junto com as outras duas Ana(s). Ontem fizemos o teste de listening e hoje fomos fazer o teste para completar o English Language Learner (ELL). Achei ótimo ninguém falar que teríamos a prova, assim não dá tempo de ficar preocupado e você faz aquilo que sabe.
Orgulhosamente passei.
Dia 26 de maio meu certificado fica pronto. Desse ponto para frente eu poderia continuar no curso High School para adultos ou ir para o preparatório do Toffel para ir para a Universidade.
Foi uma experiência maravilhosa, e só posso agradecer às professoras, à instituição Horizonte Instruction and Training Center e aos meus queridos amigos Silvye e David que me deram todo o suporte e apoio para fazer o curso.
Thank you!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

87 dias de viagem. 37º dia. Foothills Salt Lake City.

Buch Brush
Oak Brush
Sage Brush

4 de maio de 2016
Domingo de sol em Salt Lake City é dia de fazer caminhada por algum local aqui perto. Para David, ficar dentro de casa é uma heresia, todos precisam sair para caminhar. Sergeant Major Harrison, não admite negativas. Assim que ele terminou a instalação da elétrica da cozinha junto com o técnico já agrupou a sua tropa e deu a ordem de partida. A Sergeant Silvye, trata de colocar os soldados em posição de atenção e envia a tropa para o truck e organiza os mantimentos e equipamentos necessários. A tropa é constituída do soldado Daniel, da soldada Ana Carmen e do soldado Charlie the dog, que devo dizer é o mais animado de todos.
Lá vamos nós subir o morro. Quem me conhece sabe das minhas habilidades com a altura, já fiquei empacata em um morrete na praia da Mococa em Caraguatatuba e tive de ser socorrida por um amigo do Claudio Brettas. Uma das histórias que ele mais gostava de contar e recontar. Quando menina, em Barretos, fui subir na mangueira do pomar da casa da tia Arady e estanquei, não ia para frente e nem para trás. Alguém do vizinho teve que me socorrer. Minha irmã e as outras crianças não paravam de dizer que eu era muito medrosa. Eu simplesmente congelo e minhas pernas começam a doer. Um horror.
Stg Major Harrison acredita que devemos vencer nossos medos e viver plenamente a natureza, portanto, quando se faz parte do batalhão do Sgt, não há a menor chance de sair da aventura.
Paramos o truck na 3401 S Crestwood Dr Salt Lake City, UT 84109. A rua é linda. Pela lateral da casa de nº 3401 há uma trilha que leva para o alto da montanha. Sgt Major distribui os sticks de caminhada e lá vamos nós. David, Charlie e Daniel vão na frente, Silvye fica para trás para me acompanhar.
Ritmo de tartaruga tirando fotos.
Durante todo o caminho David vai nos amimando a estar junto dele. Ele quer me mostrar e contar tudo o que sabe desse lugar. Foothills possui uma vegetação rica em Oak Brunch, Buck Brunch e Sage Brunch. Essas plantas são a comida de Alces e Veados. Durante o inverno é proibido a entrada de animais como cachorros, pois os Alces e Veados estão procurando alimentos nesse local. Os Alces comem as pontinhas dos galhos dos Oak e comem Sage, e os Veados se alimentam de Buck e Sage. Procuramos no meio dessa vegetação algum chifre de Alce ou Veado caído durante a troca de chifres, mas não encontramos.
No inverno de 1983 nevou muito nessa região e os animais ficaram sem alimento. Trinta e cinco Alces morreram de fome. A neve estava muito alta, mais de 2 metros. No jardim da casa que fica ao lado da trilha tem uma árvore enorme chamada Aspen, um Alce faminto tentou comer o seu tronco e até hoje existe a marca de sua mordida no local.

Devo confessar que no início fiquei com um pouco de medo dessa empreitada, mas todos estavam me ensinando como andar na trilha, como usar o stick para me apoiar e não me esborrachar no chão de cascalho e como é a melhor maneira de pisar na trilha durante a descida. Desta forma, afirmo aqui que Sergeant Major David Harrison estava certíssimo, ficar dentro de casa em um domingo de sol é uma heresia. A montanha é linda, a paisagem de tirar o folego. Avista-se toda a cidade de Salt Lake e ao fundo ao oeste as montanhas nevadas a Antelope Island e o Great Salt Lake.